Para quem me conhece, sabe do meu interesse em literaturas que esclarecem termos e aprimoram a gestão das organizações na era digital. Minha exploração do termo “Product Operations” começou em 2019, e desde então, venho buscando compreender seu papel nas organizações, especialmente diante das confusões na comunidade brasileira sobre “agilidade” e seus papéis derivados.

Definindo Product Operations

Em outubro de 2023, Melissa Perri e Denise Tilles lançaram “Product Operations: How Successful Companies Build Better Products at Scale”. Neste livro, elas definem Product Operations como a disciplina que habilita a Gestão de Produtos dentro das organizações, destacando três pilares:

  1. Insights de Negócio e de Dados: Enfatiza a importância da análise de dados internos para a tomada de decisões estratégicas e o monitoramento do desempenho dos produtos e do negócio.
  2. Insights de Mercado e de Clientes: Concentra-se na compilação e análise de informações do mercado e feedback de clientes, uma ferramenta essencial para entender as tendências e expectativas do mercado.
  3. Processos e Práticas: Refere-se ao estabelecimento de práticas consistentes, delineando um modelo operacional eficiente para a gestão de produtos.

Em suma, ao implementar esses pilares, as organizações são capazes de desenvolver estratégias de produtos baseadas em dados concretos, otimizar a tomada de decisões, melhorar os fluxos de trabalho e a comunicação interna, e criar práticas para reduzir custos e aumentar a eficiência dos recursos.

Exemplos práticos

Abaixo, trago alguns exemplos práticos para ilustrar como Product Operations pode habilitar uma organização:

  • Implementação de Data Analytics: integrar ferramentas analíticas que permitam coletar e interpretar dados internos, gerando insights para o desenvolvimento de novos produtos ou para a avaliação da saúde do portfólio de soluções.
  • Pesquisas de mercado e feedback das clientes: utilizar plataformas de pesquisa e ferramentas de feedback para captar tendências de mercado e expectativas das clientes, essenciais para direcionar o desenvolvimento de produtos.
  • Melhoria de fluxos de trabalho: adotar metodologias e ferramentas de colaboração que facilitam a comunicação e aprimoram os processos de desenvolvimento de produtos, promovendo uma maior integração entre as equipes.

Ressalva ao livro

Minha principal ressalva ao livro é a falta de detalhamento sobre elementos essenciais para ativar efetivamente os pilares de Product Operations.

Sem dados de qualidade, uma função de pesquisa eficiente e a implementação de ferramentas básicas de gestão, a função de Product Operations pode se tornar substituível.

Tais competências são oriundas de disciplinas como Dados, Design e Governança Corporativa. Assim como acontece com a disciplina de agilidade, onde é desafiador definir seu impacto no negócio, o que ela oferece de capacidades e os pré-requisitos para seu sucesso, Product Operations corre o risco de se tornar um mero hub de informações e um gerador de burocracia.

Estudo de caso

Há algum tempo, tive a oportunidade de participar de uma consultoria em uma empresa de Software as a Service. Essa empresa, apesar de um começo promissor — com uma base de clientes em crescimento e uma aceitação positiva dos produtos no mercado —, enfrentava desafios para escalar seus produtos. Tais desafios estavam enraizados na falta de uma estrutura de gestão de produtos coesa, resultando em uma gestão ineficiente de recursos, dificuldades na priorização de iniciativas e um desalinhamento entre as equipes de desenvolvimento, marketing e vendas.

Refletindo sobre as ações que executamos, e conectando-as com os conceitos apresentados no livro, percebo que aplicamos os pilares de Product Ops de forma bastante eficaz:

  1. Insights de negócio e de dados: iniciamos pela implementação de ferramentas de BI. Essa etapa foi importante para analisar dados internos e fornecer informações valiosas sobre o desempenho dos produtos.
  2. Insights de mercado e de clientes: também adotamos um sistema de CRM que captava o feedback das clientes. Esta abordagem nos permitiu analisar, a partir de uma única fonte, as expectativas das clientes.
  3. Processos e práticas: focamos no estabelecimento de práticas para otimizar a comunicação e a eficiência nos fluxos de desenvolvimento de produtos sem necessariamente utilizar os jargões “ágeis”, o que trouxe uma menor resistência por parte das pessoas.

Os resultados dessa jornada foram:

  • Melhoria na tomada de decisão: com insights mais explícitos provenientes da análise de dados, a empresa conseguiu priorizar iniciativas com maior potencial de retorno.
  • Aumento da eficiência: a implementação de práticas de gestão de fluxo de trabalho e monitoramento da produtividade das equipes impulsionou a capacidade de entrega das equipes.
  • Alinhamento estratégico: experimentamos uma melhora no alinhamento entre os objetivos de negócios e as estratégias de desenvolvimento de produtos, algo que se consolidou por meio de cadências mensais e trimestrais.
  • Crescimento sustentável: a empresa registrou um crescimento sustentável em sua linha de produtos, evidenciado por melhorias na satisfação e retenção de clientes e um rigor mais efetivo na gestão dos recursos.

Optei por compartilhar este estudo de caso porque ele exemplifica a aplicabilidade prática dos conceitos abordados no livro. A leitura enriqueceu meu entendimento, proporcionando insights valiosos para pensar formas de implementar Product Operations em organizações que buscam aprimorar sua gestão.

Conclusão

“Product Operations: How Successful Companies Build Better Products at Scale” é uma leitura útil para profissionais de gestão de produtos digitais, combinando teoria e prática, e servindo como um guia essencial para quem deseja aprimorar a gestão em empresas digitais.

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